Fiz questão de copiar todo o conteúdo, incluindo os comentários, pois a partir dos comentários dos bloguistas e blogueiros podemos avaliar um pouco do amor ao Batutas.
João Santiago (Recife, Mar/1928 - Nov/1985)
Dos blocos carnavalescos mistos em atividade no Carnaval do Recife, o Batutas de São José é o mais antigo, surgido que fora de uma dissidência do decano Batutas da Boa Vista. Muito embora alguns dos blocos renascidos se considerem mais longevos, somente o Batutas tem uma atividade ininterrupta desde a sua fundação, naquela tarde chuvosa de 5 de junho de 1932.
Curiosamente o Batutas de São José teve a história do seu dia-a-dia contada em versos musicados, transformados em marchas de bloco e eternizados através das vozes dos seus simpatizantes. Uma estória (muito mais estória do que história), só conhecida e interpretada por aqueles que viveram as diferentes situações do caminhar do simpático bloco de São José.
Esta singular narrativa nos é contada, ao longo de mais de três décadas, pelo compositor e carnavalesco João Santiago dos Reis. Nascido no bairro recifense da Torre, em 1º de março de 1928, filho do músico José Felipe dos Reis (fundador da Orquestra Sinfônica do Recife e da orquestra da PRA 8), inspirou-se ele em fatos corriqueiros do dia-a-dia para escrever o cancioneiro do seu bloco querido.
A partir de 1952, João Santiago, em parceria com José Felipe, transformou situações curiosas em alegres marchas de bloco. Assim surgiram: A vitória é nossa (c/ José Felipe); O adeus de Lia (c/ José Felipe); Vou com Valdemar (1958); Convença-se (1960); Depois eu digo (c/ José Felipe); A parada é dura (c/ José Felipe); Surpresa (c/ José Felipe); Relembrando o passado (1959); Reminiscência (1961); Escuta Levino (1962); Edite no cordão (1965); Trinta anos de glória (1968), Zezé (1973); todas, em sua maioria, inspiradas no dia-a-dia da simpática agremiação do bairro de São José.
Em A vitória é nossa, outro grande sucesso em parceira com José Felipe dos Reis, dá continuidade a sua singular crônica ao descrever todo um clima que antecede o carnaval vivenciado dentro de uma agremiação carnavalesca: Chegou o Carnaval morena / Por isso Batutas anuncia / Não perderemos a porfia / Veja o que estou a afirmar / Batutas este ano vai desacatar [...] / Agora o Carnaval chegou / Bandeira gritou / “Não podemos perder” / Pode crer / No que vou lhe dizer / O Batutas este ano / A vitória vai ter.
De um desentendimento entre arrendatários do bar do Batutas surgiu, em 1958, Vou com Valdemar, segundo lugar no Concurso de Músicas Carnavalescas da Prefeitura do Recife: Você! / Não se iluda com o boato / Porque! / O boato não é legal / Abandone esta confusão / Porque o Batutas / É do meu coração. Dois anos depois, ainda inspirado no mesmo tema, foi a vez de Convença-se, terceiro lugar no mesmo concurso da Prefeitura do Recife.
Não esqueceu o nosso saudoso Joca (como era chamado pelos seus familiares) dos blocos desaparecidos do nosso Carnaval, como “Camponeses”, “Camelo”, “Pavão de Ouro”, “Bobos em Folia” e “Flor da Lira”, todos eles citados em Relembrando o Passado, marcha ainda hoje cantada em nossas ruas: … Os “Camponeses”, “Camelo” e “Pavão / “Bobos em Folia”, do Sebastião. / Também “Flor da Lira”, com seus violões / Impressionava com suas canções.
Personagens anônimos da agremiação passaram para história, graças ao lugar de destaque conquistado no repertório do Batutas de São José: o fundador Augusto Bandeira (A vitória é nossa); Edite, figura obrigatória na ala feminina do bloco (Edite no Cordão); Osmundo, um barbeiro do bairro de Iputinga que, apesar do peso da idade, sempre foi o “reco-reco de ouro” (Reminiscência); o mestre Levino Ferreira, o mais importante compositor de frevos-de-rua do carnaval pernambucano (Escuta Levino), só para citar alguns; parte dessas músicas integram o disco Rozenblit, João Santiago e os 50 anos do Bloco Batutas de São José (LP 90021) 1982.
Mas o grande sucesso da História do Batutas de São José, segundo a narrativa musical de João Santiago, ficou por conta de Sabe lá qué’ isso (sic). Escrita para o carnaval de 1952, a marcha só veio a ser gravada em 1973, pelo Quinteto Violado e Zélia Barbosa, na etiqueta Marcus Pereira, Música Popular do Nordeste v. 1 (LP 4035001), sob o título Hino do Batutas de São José; seguindo-se de um segundo lançamento, dois anos mais tarde, pelo sambista Martinho da Vila, com arranjo orquestral a cargo do pernambucano Severino Araújo que fez desse frevo um sucesso nacional, com sucessivas regravações:
Eu quero entrar na folia, meu bem
Você sabe lá o qué’ isso
Batutas de São José, isso é parece que tem feitiço
Batutas tem atrações que,
ninguém pode resistir
Um frevo desses bem faz,
demais a gente se distinguir…
Você sabe lá o qué’ isso
Batutas de São José, isso é parece que tem feitiço
Batutas tem atrações que,
ninguém pode resistir
Um frevo desses bem faz,
demais a gente se distinguir…
João Santiago dos Reis, um dos nomes mais esquecidos do nosso Carnaval, faleceu na emergência do Hospital Getúlio Vargas, bairro do Cordeiro, na noite de 11 de novembro de 1985; em sua homenagem o compositor Getúlio Cavalcanti escreveu Chora Batutas:
João Santiago deixou o Batutas
Chora saudades seu pessoal
Banhistas hoje apesar das lutas
Sente a tristeza do seu rival
E abre seus braços pela partida
De quem deu vida
Ao nosso Carnaval…
Compartilhe Chora saudades seu pessoal
Banhistas hoje apesar das lutas
Sente a tristeza do seu rival
E abre seus braços pela partida
De quem deu vida
Ao nosso Carnaval…
15 fevereiro 2012 às 15:10 Excelente texto, com uma verdadeira aula de História do Carnaval do Recife. Realmente, Leonardo, tenta-se passar a ideia de que outros blocos que precocemente saíram de cena são mais antigos que o Batutas, apenas porque foram refundados (se fossem humanos, seriam reencarnados? )
agora em pleno século XXI, o que é uma falácia. Viva Batutas !
15 fevereiro 2012 às 15:13 Recentemente, gravamos num disco do CEMCAPE de frevos de bloco a introdução original do Hino dos Batutas de São José, no arranjo do próprio João Santiago. É uma introdução completamente diferente desta versão gravada por Martinho da Vila e que se tornou, depois da Banda de Pau e Corda, padrão em todas as regravações e execuções do Hino dos Batutas. Uma pena, pois sente-se, na introdução de Santiago, a marca do compositor !
16 fevereiro 2012 às 9:49 Bispo Leonardo: Parabéns pela homenagem a João Santiago e ao tradicional Bloco Batutas de São José. O nosso Mestre Pesquisador e Colunista Leonardo se encontra na Bélgica, representando o Instituto Ricardo Brennand. Talvez o Monsenhor Fred Monteiro tenha conhecimento e responda esta minha pergunta. Quando jovem acompanhava o regresso de Batutas de São José na quarta-feira de cinzas em sua sede na Rua da Concórdia. A última canção do bloco emocionava a todos. Lembro apenas uma pequena parte da música. Era mais ou menos assim: “Adeus adeus folião, é hora de regressar….” Talvez Julio Vila Nova do Cordas e Retalhos, se ler este comentário, possa lançar alguma luz sobre o assunto.
Recordar é viver! Abraços a todos!
22 fevereiro 2012 às 23:39 Prezado Jorge Macedo, você deve estar se referindo à canção intitulada “Regresso”, de Augusto Bandeira, que é realmente uma beleza. Imagino a emoção da despedida do bloco cantando os versos: “Adeus, adeus querido carnaval/ vamos partir levando mil recordações/ porque o nosso bloco sem rival / tem simpatia, prende todos corações/ Adeus, adeus, foliões / são horas de regressar / com saudade das nossas canções / os foliões, com pena, vão chorar / Adeus, que vamos partir / Batutas de São José / Nossa falta o povo vai sentir / porque regressa o bloco da fé // Batutas campeão dos campeões / Soube vencer, soube brilhar no carnaval / porque entre mil aclamações / Vai regressando nosso bloco sem rival / Adeus, adeus, foliões / são horas de regressar / com saudade das nossas canções / os foliões, com pena, vão chorar / Adeus, que vamos partir / Batutas de São José / Nossa falta o povo vai sentir / porque regressa o bloco da fé”.
Foi gravada no LP Frevo de Bloco, pela Marcus Pereira, lançado em 1980. Direção Musical de Zoca MAdureira. Coral Feminino e Conjunto Romançal, do qual participavam o fubÂnico Walmir Chagas (pandeiro), mais Antúlio MAdureira, Antero Madureira, Antônio CArlos Nóbrega, CArlos SAmpaio, Manoel Agostinho, Reginaldo BArros e Antônio Melo.
Também está no LP João Santiago e os 50 Anos do Batutas de São José, reeditado em 2008, em formato CD, com outra capa, e incluindo a canção “Bom é Batuta” (Carlos Fernando), interpretada por Caetano Veloso, gravação original feita em 1979, no vol. 1 da série Asas da América.
23 fevereiro 2012 às 9:02 Meu caro Julio Vila Nova: Meus sinceros agradecimentos por ter me ajudado neste retorno ao passado, pelo menos na recordação. E ainda mais com as suas informações sobre as edições da bela música que emocionava o bairro de São José nas madrugadas da quarta-feira de cinzas. Os participantes do LP de Marcus pereira,citados por você, consta como um acervo histórico. Walmir Chagas ( Véio Mangaba ), Antúlio Madureira, Antônio Nóbrega e tantos outros que hoje participam ativamente de nossa cultura popular musical. Julio, já tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente no Recife antigo, anos atrás, apresentado pelo nosso querido amigo e poeta Romero Amorim , o “Poeta do pátio de São Pedro”! Paz, saúde e um forte abraço!
23 fevereiro 2012 às 10:37 Vila Nova: Copiei sua intervenção e salvei na minha pasta de carnaval, a fim de citá-la em outra ocasião. Muito obrigado por sua gentileza.
23 fevereiro 2012 às 12:27 Prezado Jorge, aguardo uma oportunidade para cumprimentá-lo outra vez.
Leonardo, antecipei-me na resposta ao amigo Jorge Macedo porque me empolguei com a questão e fui botar o disco aqui pra ouvir de novo o Regresso, que é de fazer chorar. Observei uma coisa a respeito da letra e aproveito para tirar a dúvida: na gravação do LP “João Santiago e os 50 Anos do Batutas…” há uma mudança na letra, na primeira estrofe: “Adeus, adeus querido carnaval / vamos partir levando mil recordações/ porque o nosso bloco sem rival / COM simpatia, prende todos corações…”
Minha impressão é de que a gravação da Marcus Pereira tem a letra certa, mas deixo com você a solução. Abraço.
23 fevereiro 2012 às 13:34 Tome a liberdade de copiar toda a página, inclusive com os comentários de todos, pois através destes percebemos o quanto o nosso Batutas é querido.
antoniafuxica na verdade é um blog que intenciona guardar memórias de longo, médio e curto espaço de tempo. E o Batutas de São José não poderia de forma nenhuma ficar fora das memórias do Carnaval do Brasil