“O nordeste
é muito rico e colorido. A bandeira de Pernambuco já diz muito sobre suas
belezas. Temos muita história para contar. Recife e Olinda são feitas de gente
cheia de calos e arte nas veias. Sou criado nas ladeiras de Olinda”.
Walter Damatta - Artista Plástico.
Conexão
Brasil
entrevistou com exclusividade o artista plástico recifense Walter
Damatta. Com 47 anos, mas cheio de jovialidade, com aparência de 30,
como
declarou ao repórter, Damatta apresenta as principais obras que
transmistem a arte
pernambucana, e fala sobre o preconceito que enfrentou do pai para
seguir carreira, o uso das "novas" tecnologias no processo de produção, a
importância dos professores para sua formação, a utilização de materias
recicláveis, além de reviver momentos especias nas ladeiras do Centro
Histórico de Olinda, onde o avô confeccionou o primeiro estandarte das
"Pitombeiras dos 4 cantos de Olinda",no bloco carnavalesco Bacalhau
do Batata. Confira!
Antonio
Nelson - Como nasceu o talento para Arte?
Walter
Damatta - Desde o primeiro grito que dei na maternidade de São Marcos, no Recife.
Plena ditadura, dia 12 de dezembro de 1964. Minha mãe conta que abriu olhos e
viu um “sol grande” nascendo no horizonte. Tinha muita cor e luz. Na sala de
cirurgia não havia janelas. Ela diz sempre que sabia que eu ia ser
artista. Acredito que nascemos artistas. Se nós vamos dar continuidade é
outra coisa. Oportunidade, talento e dedicação são imprescindíveis. Eu pedia
para meu pai comprar aqueles discos de vinis, que contavam estórias infantis. Eu
montava uma peça teatral com meus amiguinhos e ainda confeccionava as máscaras
da peça com sacolas de papel de padaria. Meu sonho era ser cantor. Entrei para
o coral e comecei a estudar canto. Foi onde tudo começou ao mesmo tempo. Canto,
teatro e artes plásticas.
Antonio
Nelson – Quais são suas referências na Escola da Arte nacional e mundial?
Walter
Damatta - Gosto muito de Cícero Dias, Marc Chagall, Modigliani, Miró, Fernando
Botero, Gilvan Samico, entre outros. Estudei desenho e pintura no MAC - Museu
de Arte Contemporânea de Pernambuco, em Olinda. Zé de Moura, João Câmara,
Delano, Carlos Viana foram alguns de meus professores. Eu sempre gostei de desenhar. Riscava as
paredes da casa. As capas de caderno e até os rolos de papel higiênico. Retratava
os amigos da escola. Fazia caricaturas grosseiras de meus professores de
matemática. Sempre fui péssimo nessa matéria. Pintava rostos de pessoas que eu
nunca tinha visto. Sempre gostei das figuras humanas.
Antonio
Nelson - Como foi ter como professores Zé Moura, João Câmara, Delano e Carlos
Viana?
Walter Damatta - Em 1982.
Eu era muito tímido, cheio de neuras e dúvidas. Meu pai sempre achou que ser
artista era o mesmo que ser maconheiro, viado e vagabundo. Eu quase acreditei
nele, e assim perdi muito tempo. Ele queria que eu fosse tudo, menos
artista. Quando fiz o MAC deparei com uma realidade bem diferente. Gente
vivendo de arte, gente apreciando arte. Embora tímido, me senti em casa.
Confesso que não foi exatamente o curso que me deu "régua e
compasso". Talvez até hoje, eu ainda não tenha encontrado o caminho.
Descobri muitas técnicas e personagens que trabalho atualmente, sozinho. Todos
os professores eram figurativos, por isso, acredito que talvez a minha paixão
por figuras humanas tenha vindo da convivência com eles. Lembro-me que quando
entrei no curso havia aproximadamente 35 alunos... No final, restaram uns 12.
Nunca encontrei nenhum deles no cenário das artes plásticas. Reencontrei o Zé
de Moura numa exposição no Recife, e conversamos um pouco. De qualquer forma,
para o mercado de artes, alguns acreditam que é interessante ter tido mestres
como eles. Eu Considero que o aprendizado é para sempre. E tem muito artista
talentoso por aí que se vira sozinho, e é infinitamente melhor que alguns dos
velhos mestres famosos.
Antonio
Nelson – O que Olinda e Recife têm para expor ao mundo?
Walter
Damatta - Originalidade. Identidade. Arte de um povo de coragem. Povo criativo e
persistente. O nordeste é muito rico e colorido. A bandeira de Pernambuco já
diz muito de sobre suas belezas. Temos muita história para contar. Recife e
Olinda são feitas de gente cheia de calos e arte nas veias. Sou criado nas
ladeiras de Olinda. Rua do Bonfim, no pé da ladeira da Sé. Morávamos pertinho
de um restaurante, em que o garçon "Batata", do bloco "Bacalhau
do Batata" era amigo do meu pai. Meus avós moravam nos 4 cantos, Centro
Histórico de Olinda. Meu avô confeccionou o primeiro estandarte das
"Pitombeiras dos 4 cantos de Olinda",troça carnavalesca. Tudo é muito
mágico aqui. Tive a sorte de ter nascido aqui.
Antonio
Nelson – Quais suas principais obras?
Walter
Damatta - Tenho muitas fases, mas considero que meu grande momento foi o Festival
internacional de mamulengo, o SESI Bonecos do mundo. Embora a agência
"Aliança de Comunicação" não tenha citado meu nome em lugar algum.
Nessa época, eu trabalhava com resíduos sólidos, garrafas plásticas, papel,
lixo reaproveitável. Confeccionei em tempo recorde três bonecos de mamulengos.
Eram três modelos: uma ruiva, um velho e um negro. Campanha publicitária
"Tão vivo que parece gente". Fiz as cabeças com garrafas PET. Foi um
sucesso. Esse festival andou o Brasil todo. Meus trabalhos onde aproveito o
lixo são muito admirados.
Antonio
Nelson – As “novas” tecnologias possibilitam mais criatividade e rompem fronteiras?
Walter
Damatta - Consigo me comunicar com artistas do mundo através de uma rede social,
Facebook. Troco experiências, técnicas, convites. A internet ajudou muito na
divulgação de minha arte. Tanto nas artes plásticas, como no teatro e na música
também. Pois também trabalho com outras modalidades de arte.
Antonio
Nelson – Como funciona seu processo criativo?
Walter
Damatta - É um processo muito solitário. Sempre trabalho ouvindo música, notícias
do mundo. Gosto de estar livre para pensar, embora isso nem sempre seja
possível. Vejo-me ainda preso em nome da sobrevivência. Ainda aceito certas
encomendas para pagar as contas no final do mês. Sinto-me meio prostituto em
alguns momentos, trabalhos. Viver de arte é um tanto complicado. A dor, a
alegria, os amores, e amigos. Fatos da vida são inspirações para mim. O resto é
muito trabalho e concentração.
15 fevereiro 2012 às 15:10 Excelente texto, com uma verdadeira aula de História do Carnaval do Recife. Realmente, Leonardo, tenta-se passar a ideia de que outros blocos que precocemente saíram de cena são mais antigos que o Batutas, apenas porque foram refundados (se fossem humanos, seriam reencarnados? )
agora em pleno século XXI, o que é uma falácia. Viva Batutas !
15 fevereiro 2012 às 15:13 Recentemente, gravamos num disco do CEMCAPE de frevos de bloco a introdução original do Hino dos Batutas de São José, no arranjo do próprio João Santiago. É uma introdução completamente diferente desta versão gravada por Martinho da Vila e que se tornou, depois da Banda de Pau e Corda, padrão em todas as regravações e execuções do Hino dos Batutas. Uma pena, pois sente-se, na introdução de Santiago, a marca do compositor !
16 fevereiro 2012 às 9:49 Bispo Leonardo: Parabéns pela homenagem a João Santiago e ao tradicional Bloco Batutas de São José. O nosso Mestre Pesquisador e Colunista Leonardo se encontra na Bélgica, representando o Instituto Ricardo Brennand. Talvez o Monsenhor Fred Monteiro tenha conhecimento e responda esta minha pergunta. Quando jovem acompanhava o regresso de Batutas de São José na quarta-feira de cinzas em sua sede na Rua da Concórdia. A última canção do bloco emocionava a todos. Lembro apenas uma pequena parte da música. Era mais ou menos assim: “Adeus adeus folião, é hora de regressar….” Talvez Julio Vila Nova do Cordas e Retalhos, se ler este comentário, possa lançar alguma luz sobre o assunto.
Recordar é viver! Abraços a todos!
22 fevereiro 2012 às 23:39 Prezado Jorge Macedo, você deve estar se referindo à canção intitulada “Regresso”, de Augusto Bandeira, que é realmente uma beleza. Imagino a emoção da despedida do bloco cantando os versos: “Adeus, adeus querido carnaval/ vamos partir levando mil recordações/ porque o nosso bloco sem rival / tem simpatia, prende todos corações/ Adeus, adeus, foliões / são horas de regressar / com saudade das nossas canções / os foliões, com pena, vão chorar / Adeus, que vamos partir / Batutas de São José / Nossa falta o povo vai sentir / porque regressa o bloco da fé // Batutas campeão dos campeões / Soube vencer, soube brilhar no carnaval / porque entre mil aclamações / Vai regressando nosso bloco sem rival / Adeus, adeus, foliões / são horas de regressar / com saudade das nossas canções / os foliões, com pena, vão chorar / Adeus, que vamos partir / Batutas de São José / Nossa falta o povo vai sentir / porque regressa o bloco da fé”.
Foi gravada no LP Frevo de Bloco, pela Marcus Pereira, lançado em 1980. Direção Musical de Zoca MAdureira. Coral Feminino e Conjunto Romançal, do qual participavam o fubÂnico Walmir Chagas (pandeiro), mais Antúlio MAdureira, Antero Madureira, Antônio CArlos Nóbrega, CArlos SAmpaio, Manoel Agostinho, Reginaldo BArros e Antônio Melo.
Também está no LP João Santiago e os 50 Anos do Batutas de São José, reeditado em 2008, em formato CD, com outra capa, e incluindo a canção “Bom é Batuta” (Carlos Fernando), interpretada por Caetano Veloso, gravação original feita em 1979, no vol. 1 da série Asas da América.
23 fevereiro 2012 às 9:02 Meu caro Julio Vila Nova: Meus sinceros agradecimentos por ter me ajudado neste retorno ao passado, pelo menos na recordação. E ainda mais com as suas informações sobre as edições da bela música que emocionava o bairro de São José nas madrugadas da quarta-feira de cinzas. Os participantes do LP de Marcus pereira,citados por você, consta como um acervo histórico. Walmir Chagas ( Véio Mangaba ), Antúlio Madureira, Antônio Nóbrega e tantos outros que hoje participam ativamente de nossa cultura popular musical. Julio, já tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente no Recife antigo, anos atrás, apresentado pelo nosso querido amigo e poeta Romero Amorim , o “Poeta do pátio de São Pedro”! Paz, saúde e um forte abraço!
23 fevereiro 2012 às 10:37 Vila Nova: Copiei sua intervenção e salvei na minha pasta de carnaval, a fim de citá-la em outra ocasião. Muito obrigado por sua gentileza.
23 fevereiro 2012 às 12:27 Prezado Jorge, aguardo uma oportunidade para cumprimentá-lo outra vez.
Leonardo, antecipei-me na resposta ao amigo Jorge Macedo porque me empolguei com a questão e fui botar o disco aqui pra ouvir de novo o Regresso, que é de fazer chorar. Observei uma coisa a respeito da letra e aproveito para tirar a dúvida: na gravação do LP “João Santiago e os 50 Anos do Batutas…” há uma mudança na letra, na primeira estrofe: “Adeus, adeus querido carnaval / vamos partir levando mil recordações/ porque o nosso bloco sem rival / COM simpatia, prende todos corações…”
Minha impressão é de que a gravação da Marcus Pereira tem a letra certa, mas deixo com você a solução. Abraço.
23 fevereiro 2012 às 13:34 Tome a liberdade de copiar toda a página, inclusive com os comentários de todos, pois através destes percebemos o quanto o nosso Batutas é querido.
antoniafuxica na verdade é um blog que intenciona guardar memórias de longo, médio e curto espaço de tempo. E o Batutas de São José não poderia de forma nenhuma ficar fora das memórias do Carnaval do Brasil