terça-feira, 18 de setembro de 2012

Walter Damatta

Walter Damatta. Elogios... Auto-explicativos.
 
       
Tomo a liberdade de transcrever a entrevista do http://www.conexaobrasil.net.br.
 
 
Olinda cidade multicores
 
“O nordeste é muito rico e colorido. A bandeira de Pernambuco já diz muito sobre suas belezas. Temos muita história para contar. Recife e Olinda são feitas de gente cheia de calos e arte nas veias. Sou criado nas ladeiras de Olinda”.
 
Walter Damatta - Artista Plástico.

 
 
 
Conexão Brasil entrevistou com exclusividade o artista plástico recifense Walter Damatta. Com 47 anos, mas cheio de jovialidade, com aparência de 30, como declarou ao repórter, Damatta apresenta as principais obras que transmistem a arte pernambucana, e fala sobre o preconceito que enfrentou do pai para seguir carreira, o uso das "novas" tecnologias no processo de produção, a importância dos professores para sua formação, a utilização de materias recicláveis, além de reviver momentos especias nas ladeiras do Centro Histórico de Olinda, onde o avô confeccionou o primeiro estandarte das "Pitombeiras dos 4 cantos de Olinda",no bloco carnavalesco Bacalhau do Batata. Confira!
 
Antonio Nelson - Como nasceu o talento para Arte?
 
Walter Damatta - Desde o primeiro grito que dei na maternidade de São Marcos, no Recife. Plena ditadura, dia 12 de dezembro de 1964. Minha mãe conta que abriu olhos e viu um “sol grande” nascendo no horizonte. Tinha muita cor e luz. Na sala de cirurgia não havia janelas. Ela diz sempre que sabia que eu ia ser artista. Acredito que nascemos artistas. Se nós vamos dar continuidade é outra coisa. Oportunidade, talento e dedicação são imprescindíveis. Eu pedia para meu pai comprar aqueles discos de vinis, que contavam estórias infantis. Eu montava uma peça teatral com meus amiguinhos e ainda confeccionava as máscaras da peça com sacolas de papel de padaria. Meu sonho era ser cantor. Entrei para o coral e comecei a estudar canto. Foi onde tudo começou ao mesmo tempo. Canto, teatro e artes plásticas.
 
Antonio Nelson – Quais são suas referências na Escola da Arte nacional e mundial? 
 
Walter Damatta - Gosto muito de Cícero Dias, Marc Chagall, Modigliani, Miró, Fernando Botero, Gilvan Samico, entre outros. Estudei desenho e pintura no MAC - Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco, em Olinda. Zé de Moura, João Câmara, Delano, Carlos Viana foram alguns de meus professores.  Eu sempre gostei de desenhar. Riscava as paredes da casa. As capas de caderno e até os rolos de papel higiênico. Retratava os amigos da escola. Fazia caricaturas grosseiras de meus professores de matemática. Sempre fui péssimo nessa matéria. Pintava rostos de pessoas que eu nunca tinha visto. Sempre gostei das figuras humanas.
 
Antonio Nelson - Como foi ter como professores Zé Moura, João Câmara, Delano e Carlos Viana?
 
Walter Damatta - Em 1982. Eu era muito tímido, cheio de neuras e dúvidas. Meu pai sempre achou que ser artista era o mesmo que ser maconheiro, viado e vagabundo. Eu quase acreditei nele, e assim perdi muito tempo. Ele queria que eu fosse tudo, menos artista. Quando fiz o MAC deparei com uma realidade bem diferente. Gente vivendo de arte, gente apreciando arte. Embora tímido, me senti em casa. Confesso que não foi exatamente o curso que me deu "régua e compasso". Talvez até hoje, eu ainda não tenha encontrado o caminho. Descobri muitas técnicas e personagens que trabalho atualmente, sozinho. Todos os professores eram figurativos, por isso, acredito que talvez a minha paixão por figuras humanas tenha vindo da convivência com eles. Lembro-me que quando entrei no curso havia aproximadamente 35 alunos... No final, restaram uns 12. Nunca encontrei nenhum deles no cenário das artes plásticas. Reencontrei o Zé de Moura numa exposição no Recife, e conversamos um pouco. De qualquer forma, para o mercado de artes, alguns acreditam que é interessante ter tido mestres como eles. Eu Considero que o aprendizado é para sempre. E tem muito artista talentoso por aí que se vira sozinho, e é infinitamente melhor que alguns dos velhos mestres famosos.
 
Antonio Nelson – O que Olinda e Recife têm para expor ao mundo?         
           
Walter Damatta - Originalidade. Identidade. Arte de um povo de coragem. Povo criativo e persistente. O nordeste é muito rico e colorido. A bandeira de Pernambuco já diz muito de sobre suas belezas. Temos muita história para contar. Recife e Olinda são feitas de gente cheia de calos e arte nas veias. Sou criado nas ladeiras de Olinda. Rua do Bonfim, no pé da ladeira da Sé. Morávamos pertinho de um restaurante, em que o garçon "Batata", do bloco "Bacalhau do Batata" era amigo do meu pai. Meus avós moravam nos 4 cantos, Centro Histórico de Olinda. Meu avô confeccionou o primeiro estandarte das "Pitombeiras dos 4 cantos de Olinda",troça carnavalesca. Tudo é muito mágico aqui. Tive a sorte de ter nascido aqui.
 
Antonio Nelson – Quais suas principais obras?
 
Walter Damatta - Tenho muitas fases, mas considero que meu grande momento foi o Festival internacional de mamulengo, o SESI Bonecos do mundo. Embora a agência "Aliança de Comunicação" não tenha citado meu nome em lugar algum. Nessa época, eu trabalhava com resíduos sólidos, garrafas plásticas, papel, lixo reaproveitável. Confeccionei em tempo recorde três bonecos de mamulengos. Eram três modelos: uma ruiva, um velho e um negro. Campanha publicitária "Tão vivo que parece gente". Fiz as cabeças com garrafas PET. Foi um sucesso. Esse festival andou o Brasil todo. Meus trabalhos onde aproveito o lixo são muito admirados.
 
Antonio Nelson – As “novas” tecnologias possibilitam mais criatividade e rompem fronteiras?
 
Walter Damatta - Consigo me comunicar com artistas do mundo através de uma rede social, Facebook. Troco experiências, técnicas, convites. A internet ajudou muito na divulgação de minha arte. Tanto nas artes plásticas, como no teatro e na música também. Pois também trabalho com outras modalidades de arte.
 
Antonio Nelson – Como funciona seu processo criativo?
 
Walter Damatta - É um processo muito solitário. Sempre trabalho ouvindo música, notícias do mundo. Gosto de estar livre para pensar, embora isso nem sempre seja possível. Vejo-me ainda preso em nome da sobrevivência. Ainda aceito certas encomendas para pagar as contas no final do mês. Sinto-me meio prostituto em alguns momentos, trabalhos. Viver de arte é um tanto complicado. A dor, a alegria, os amores, e amigos. Fatos da vida são inspirações para mim. O resto é muito trabalho e concentração. 
 

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